segunda-feira, 13 de julho de 2015

Para presidenta em exercício da Central, mais do que nunca, trabalhadores devem ir às ruas

Carmen Helena Ferreira Foro durante Marcha das Margaridas, em 2011 - Foto: Dino Santos

Diante de um Congresso Nacional dominado por forças conservadoras e de um governo que adotou a recessão como modelo econômico para promover os ajustes cobrados pelo mercado financeiro, cabe à maior central sindical do país capitanear uma luta quase que diária em defesa da democracia.

Para a presidenta em exercício da CUT, Carmen Foro, a fragilidade do momento exige que a classe trabalhadora vá além da pauta sindical, sob a ameaça de perder conquistas histórias que custaram o sangue de muitos homens e mulheres.

No ano em que a CUT adotará a paridade nas direções estaduais e nacional, Carmen Helena Foro assume, interinamente, a presidência da Central. Ela ocupará o cargo durante a viagem de Vagner Freitas à Rússia para participar da Reunião da Cúpula do BRICS e do BRICS Sindical.

Carmen passou à vice-presidência em 2006 e se tornou a primeira mulher a presidir uma central sindical, interinamente, no ano de 2007. Filha de agricultores, a dirigente destaca que o primeiro passo da presidenta Dilma Rousseff para vencer a crise é abrir o canal de diálogo com os movimentos sindical e sociais.

Confira a entrevista.


Este ano a CUT implementará a paridade entre gêneros em suas instâncias estaduais e na nacional. Quais mudanças você acredita que teremos na prática?

Carmen Foro - A CUT é pioneira na discussão de garantir mais mulheres nos espaços de poder, resultado de um grande trabalho articulado desde os sindicatos até as estaduais. Porém é bom ressaltar que a paridade não é um fim em si mesmo. Não é porque implementaremos a paridade que resolveremos todos os problemas, que acabará o machismo, a discriminação e a desigualdade no movimento sindical. A ação é importante porque traz mais mulheres para instâncias de debate e decisão e para vivamos um novo aprendizado. Mas as mudanças não serão automáticas. Será sim a presença das mulheres, de forma paritária, que gradualmente produzirá as transformações que almejamos há muito tempo, inclusive de comportamento, com uma nova cultura de ampliação do diálogo e da democracia.

A CUT está muito longe de eleger, com o Brasil, uma mulher para a presidência?

Carmen - Creio que não, por conta dos caminhos de articulação que as mulheres fazem e já resultam em paridade, isso é um fato. Já vemos mulheres nas presidências das estaduais da CUT e acredito que nossa permanente mobilização produzirá isso em um prazo não tão longo.

O governo prometeu para agosto uma proposta de reforma agrária. Em quais pontos você acredita que precisamos avançar?

Carmen - 
Em todos os pontos, desde o assentamento até a estruturação desses espaços. Agora, não devemos esperar uma solução mágica para a reforma agrária. Seria muito mais plausível se tivesse espaço para construção participativa dos movimentos nesse processo. No Brasil, com os enormes latifúndios que temos, impera a produção em grandes territórios com uso de veneno pelo agronegócio em detrimento da produção em pequenos espaços com respeito ao meio-ambiente da agricultura familiar, apesar de termos tido avanços nesses últimos 12 anos de governo popular e democrático. Esse cenário faz da reforma agrária um desafio muito grande para um governo sozinho apresentar solução

O Plano Safra foi do tamanho que os agricultores familiares esperavam?

Carmen - 
O Plano safra vem crescendo a cada ano devido à inegável força da organização dos trabalhadores. Esse ano também foi importante, tivemos mais recursos para assistência técnica, para questões da agroecologia, que ganhou centralidade. Ainda que não seja na medida que gostaríamos, há indução direta para quem vai produzir com base no modelo agroecológico. Temos também no programa deste ano políticas específicas para a juventude, para as mulheres, mas, obviamente, ainda encontramos muitas dificuldades. Mesmo que a cada ano aumente os valores, muitas vezes não conseguimos financiar vários produtos fundamentais, apesar dos de recursos no PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que financia a compra de produtos pelo Estado.

O Brasil vive um momento de ascensão das forças e pautas conservadoras em temas que não tem, necessariamente, uma relação com o mundo do trabalho. Em um cenário como esse qual o papel que uma central sindical deve exercer?

Carmen - 
A CUT não é uma central sindical que vê a banda passar e fica olhando. Sempre estivemos e continuaremos à frente das lutas nesse país para garantir que tenhamos um Brasil democrático. Não estamos só vendo, mas fazendo movimentações para intervir e impedir que tenhamos retrocesso. Por isso temos ocupado as ruas ao lado de nossos parceiros. Até porque, a redução da maioridade penal, por exemplo, atinge essencialmente a classe trabalhadora e os filhos dos trabalhadores, a contrarreforma política do Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados), com o financiamento empresarial das campanhas, dificulta ainda mais para que os trabalhadores tenham condições para chegar aos espaços de decisão e poder.

Você é do Pará, onde a CUT atua para ampliar a relação com as bases e para onde estão previstos investimentos que devem afetar a vida dos trabalhadores. Como fazer para enfrentar e vencer esse obstáculo?

Carmen - 
A CUT Pará está fazendo uma etapa preparatória para o Congresso Estadual e inserindo nesse processo um movimento de mobilização de várias regiões, fazendo com que discutam a pauta vigente. Mas, para além disso, temos que pensar a estratégia para o Estado, que deve receber vários investimentos em hidrelétricas, hidrovias, portos e não podemos ver isso acontecer sem ter uma articulação da CUT em defesa dos direitos dos trabalhadores. A dificuldade está em estabelecer uma rede de comunicação e atuação organizada e interligada. Esse é o desafio de nascer e viver no Pará, mas não fugimos dos nossos desafios. 
Fonte: CUT

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